quinta-feira, 30 de abril de 2015

UM ESTUDO SOBRE O PECADO — PARTE 013D — PECADO E CASTIGO — PARTE D


Representação de Jesus orando completamente prostrado

Essa é uma série cujo propósito é estudar, com profundidade, os ensinamentos da Bíblia acerca do pecado, com uma ênfase especial na questão do chamado “pecado para a morte”. Os demais estudos dessa série poderão ser acessados por meio dos links alistados no final desse estudo.  

13D. Pecado e Castigo — PARTE D

CONTINUAÇÃO...

Verso 35

E, adiantando-se um pouco, prostrou-se em terra; e orava para que, se possível, lhe fosse poupada aquela hora.

A agonia continua, agora mais intensa! Mas agora, Jesus vai se dedicar à oração — que havia sido brevemente iniciada no verso 32. Jesus desejava estar completamente só, e se afasta até dos três que ele havia levado consigo. Mas conforme

Lucas 22:41

Ele, por sua vez, se afastou, cerca de um tiro de pedra, e, de joelhos, orava,

Jesus se afastou o equivalente à distância que um homem poderia, comodamente, arremessar uma pedra. A descrição de Marcos desta cena é muito objetiva. Jesus se “atirou ao chão” para orar. Lucas diz que Ele se ajoelhou. É muito provável que Jesus tenha feito as duas coisas. Esta atitude de Jesus demonstra várias coisas. Em parte nos mostra a grande reverência que Jesus tinha por Deus o Pai. Por outro lado nos revela a inclemência da espada da justiça que estava sendo levantada contra Ele e os terrores reservados àqueles que desobedecem aos mandamentos de Deus mediante a ira de Deus que estava sendo derramada já naqueles momentos. Por outro lado nos mostra o quão deprimida se encontrava Sua alma; o quão humilhado Ele se encontrava e em que condições estava Seu espírito, a ponto de não poder olhar para cima. Esta é a atitude de alguém que se encontra completamente perplexo — espantado, admirado, atônito. Prostra-se com o rosto em terra era uma atitude comum de adoração no Antigo Testamento, especialmente em horas de grande espanto —

Números 16:22

Mas eles se prostraram sobre o seu rosto e disseram: Ó Deus, Autor e Conservador de toda a vida, acaso, por pecar um só homem, indignar-te-ás contra toda esta congregação?

2 Crônicas 20:18

Então, Josafá se prostrou com o rosto em terra; e todo o Judá e os moradores de Jerusalém também se prostraram perante o SENHOR e o adoraram.

Neemias 8:6)

Esdras bendisse ao SENHOR, o grande Deus; e todo o povo respondeu: Amém! Amém! E, levantando as mãos; inclinaram-se e adoraram o SENHOR, com o rosto em terra.

O verbo grego προσκυνέω – proscunéo, que pode ser traduzido por “adorar” significa, literalmente, ajoelhar-se, prostra-se, cair aos pés de e etc.

Acerca da expressão “e orava”, Calvino diz o seguinte: “É muito útil orar sozinho, pois nesses momentos a alma desenvolve uma maior familiaridade com Deus e com maior simplicidade pode derramar tanto seus pedidos, quanto seus gemidos, cuidados, medos, esperanças e alegrias diretamente no “peito” de Deus”.

A oração de Jesus além de ser intensa foi feita, provavelmente, em altos brados a ponto de alguns dos discípulos deixados mais distantes terem ouvido Seus clamores, como está indicado em

Hebreus 5:7

Ele, Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da morte e tendo sido ouvido por causa da sua piedade

Mateus e Lucas dizem que Jesus, já nesta primeira oração, se dirigiu a Deus como Pai, o que era costumeiro em Suas orações. Infelizmente, na maioria das vezes, nós só nos preocupamos em chamar Deus de Pai em horas de grande agonia. Mas mesmo assim, Deus seja louvado, por sempre nos acolher!

Se Possível — O que Jesus queria dizer ao usar essas palavras? Ele queria dizer que se fosse consistente com a justiça divina e com a manutenção da ordem no universo o fato das pessoas poderem ser salvas sem que esse sofrimento terrível tivesse que acontecer, então que isso fosse feito. Não há dúvida de que se fosse possível algo assim, teria sido feito. O fato de que os sofrimentos propostos a Jesus não foram removidos e que Ele teve que ir adiante suportando, sem alívio, toda a carga da ira divina nos mostra que a possibilidade aventada por Jesus não era consistente nem com a justiça de Deus, nem com a necessidade humana de apresentar um sacrifício propiciatório que fosse satisfatório —

Hebreus 10:4

Porque é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados.

Somente Jesus poderia satisfazer as duas condições: suportar toda a ira de Deus contra o pecado —única vez manifestada na história humana — e apresentar um sacrifício que fosse aceito por Deus não só como propiciatório — satisfatório para Deus — e também vicário — em lugar de. É por esse motivo que a salvação é oferecida graciosamente e exclusivamente através daquilo que o Pai e o Filho alcançaram para a raça humana caída. Fora deste contexto não existe salvação. Devemos nos lembrar das palavras do profeta Jonas proferidas no ventre do peixe: “ao SENHOR pertence a salvação”.

Verso 36

E dizia: Aba, Pai, tudo te é possível; passa de mim este cálice; contudo, não seja o que eu quero, e sim o que tu queres.

Aqui nesse versículo temos as próprias palavras que Cristo usou na sua oração. Várias coisas devem ser notadas:

Abba, Pai — Teria Jesus usado tanto a expressão aramaica “abba”, que quer literalmente dizer “meu pai”, quanto a expressão grega “pater”? Ou, o “pater” seria uma adição editorial de Marcos, visando aclarar para seus leitores, na maioria pessoas que falavam o grego comum — Koinê — o significado da expressão aramaica “abba”? Ao usar as palavras “tudo te é possível”, Jesus manifesta confiança plena e submissão completa a Deus ao reconhecer que o Pai, a quem ele está se dirigindo, é capaz de fazer o que quiser.

Passa de mim este cálice — O cálice é frequentemente usado nos escritos sagrados para fazer referência à tristeza, angústia, terror e morte. Parece que neste contexto existe uma referência a uma prática judicial muito antiga. De acordo com esta prática, um grupo de criminosos recebia um cálice contendo veneno do qual todos eles deveriam beber. Sócrates, o filósofo grego, foi obrigado a beber um destes cálices pelos magistrados Atenienses. No caso de Sócrates ele foi executado de forma solitária, mas não era incomum esta prática ser adotada quando vários criminosos deveriam ser executados simultaneamente. Em um determinado momento o juiz poderia fazer um gesto indicando que um determinado condenado passasse o cálice adiante e não bebesse o líquido mortal. O mundo inteiro está aqui sendo representado como culpado diante do tribunal de Deus. O cálice dos condenados precisa passar de mão em mão e todos estão obrigados a beber sua própria porção. Mas em vez disto, Jesus entra no quadro e tomando o cálice das mãos dos condenados se dispõe a bebê-lo por completo, sozinho. Parece que é neste sentido que Jesus “provou a morte por todo homem — Hebreus 2:9)”, para que pela graça de Deus nós pudéssemos ser salvos.

Essa cena inteira é uma referência direta aos eventos imediatos que culminariam com a morte na cruz e o completo abandono que Jesus experimentaria.

Além do mais, beber o conteúdo de um cálice é uma bem conhecida figura de linguagem no oriente médio que quer dizer “provar em sua plenitude” uma determinada experiência seja ela boa — ver Salmos 16:5: 23:5; 116:13 — ou ruim ver Salmos 11:6; 75:8; Isaías 51:17, 22-23; Jeremias 25:15; Lamentações 4:21; Ezequiel 23:32; Habacuque 2:16. Esta figura de linguagem era muito usada para indicar a consumação da ira de Deus. Os ímpios terão que sorver o cálice da ira de Deus até a última gota. Jesus tomou este cálice em nosso lugar.

Contudo, não seja o que eu quero, e sim o que tu queres — a expressão passa de mim este cálice é imediatamente seguida por “contudo, não seja o que eu quero, e sim o que tu queres”. Isto demonstra que o pedido feito por Jesus não era algo pecaminoso, pelo contrário, estava plenamente alinhado tanto com a vontade de Deus quanto com o amor pela raça humana e era completamente consistente com o momento vivido.

Mesmo levando em consideração todo o amargor da hora, ainda assim Jesus se submete voluntariamente, não forçado, ao Pai. Fica bem evidente a atitude de Jesus de se submeter completamente ao Pai. As palavras de

Salmos 40:8

Agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração, está a tua lei..

deviam ser um grande incentivo para Jesus neste momento. O texto de Lucas

22:43-44

43 Então, lhe apareceu um anjo do céu que o confortava.

44 E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra.

apesar de ser posterior ao de Marcos e de Lucas não ter participado como testemunha ocular, é muito coerente com o momento expresso como sendo de “angústia e pavor “e” minha alma está triste até a morte”.

De acordo com Lucas, um anjo lhe apareceu para confortá-lo e seu suor era intenso como gotas de sangue. Lucas também acrescenta que ele orava mais intensamente o que é corroborado por Hebreus 5:7. Jesus procurou, mesmo nesta Sua hora de grande angústia, fazer a vontade de Deus. Com isso Ele nos deixou um modelo de oração em tempos de aflição e até mesmo de calamidade no que diz respeito à forma de buscarmos o livramento da parte de Deus. Como o nosso Salvador, em momentos como estes, nós precisamos nos submeter completamente à vontade de Deus, confiantes de que em todas estas situações Ele é sábio, misericordioso e bom.

Após esta primeira oração, Jesus retorna aos discípulos e...

Verso 37

Voltando, achou-os dormindo; e disse a Pedro: Simão, tu dormes? Não pudeste vigiar nem uma hora?

A hora estava avançada. Era, provavelmente, mais de meia-noite. Apesar da sociedade como um todo, naqueles dias, ter o hábito de dormir cedo, Simão, que era pescador, tinha por hábito passar noites em claro. Todavia, os acontecimentos que antecederam a ida ao Getsêmani devem ter contribuído para a exaustão dos discípulos — os intensos preparativos para celebrar a páscoa, o lava-pés, o anúncio de que um dos discípulos seria o traidor, a partida de Judas, a celebração da Ceia, o anúncio de que Jesus seria abandonado e o protesto de Pedro e etc. Entretanto, nada justifica a falta destes homens. Tivessem pedido forças para se manterem acordados teriam sido atendidos! Pedro, especialmente, era indesculpável. O Senhor chama Pedro pelo nome, para indicar uma contradição muito concreta. Sua posição — de Pedro — de liderança demandava dele um comportamento mais coerente. Esse é o mesmo Pedro que havia feito inúmeras afirmativas impressionantes nas horas que antecederam estes momentos:

Marcos 14:29

Disse-lhe Pedro: Ainda que todos se escandalizem, eu, jamais!

Marcos 14:31

Mas ele insistia com mais veemência: Ainda que me seja necessário morrer contigo, de nenhum modo te negarei. Assim disseram todos.

Lucas 22:33

Ele, porém, respondeu: Senhor, estou pronto a ir contigo, tanto para a prisão como para a morte.

João 13:37

Replicou Pedro: Senhor, por que não posso seguir-te agora? Por ti darei a própria vida.
Mas, aqui está Pedro, dormindo, mesmo tendo sido encorajado por Jesus a orar e se manter acordado! Se Pedro não tinha conseguido se manter acordado por uma hora, imagine o que aconteceria quando os acontecimentos das próximas horas se precipitassem.

Por outro lado, Lucas nos diz que eles estavam dormindo exatamente por causa da excessiva tristeza que estavam experimentando

Lucas 22:45

Levantando-se da oração, foi ter com os discípulos, e os achou dormindo de tristeza,

e não porque fossem irresponsáveis. Isto apenas contribui para fazer maior ainda o contraste entre a atitude dos discípulos e a de Jesus que se encontrava em uma tristeza muito mais profunda do que aquela experimentada pelos discípulos, mas se manteve firme vigiando e orando.

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O PECADO — ESTUDO —002 — A QUEDA — UMA INTERPRETAÇÃO DE GÊNESIS 3 — PARTE 1

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O PECADO — ESTUDOS 013C — PECADO E O CASTIGO PARTE C — JESUS NO GETSÊMANI — PARTE 002

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O PECADO — ESTUDOS 014C — O PECADO PARA A MORTE — PARTE C —DIFERENTES TIPOS DE PESSOAS QUE PODEM COMETER O  PECADO IMPERDOÁVEL
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2015/08/um-estudo-sobre-o-pecado-parte-014_13.html

Grande Abraço e que Deus possa abençoar a todos.

Alexandros Meimaridis

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