quarta-feira, 29 de abril de 2015

A RESSURREIÇÃO DE CRISTO NA TEOLOGIA DE PAULO — PARTE 003 — CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS — PARTE 002


A manifestação de Jesus não teria sentido sem a revelação do Senhor a Paulo

ESSA É UMA SÉRIE DE ESTUDOS QUE VISA ABORDAR DA MANEIRA COMO CONSIDERAMOS APROPRIADA A IMPORTANTE QUESTÃO RELATIVA À RESSURREIÇÃO DE CRISTO. TOMANDO COMO BASE AS OBRAS DE GEERHARDUS VOS E HERMAN RIDDERBOS. NOSSA INTENÇÃO É MOSTRAR A CENTRALIDADE DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO NA TEOLOGIA PAULINA.

ATENÇÃO: O material contido nesses estudos foi, em grande parte, adaptado da notas de aula e da apostila fornecida pelo professor Dr. Richard B. Gaffin em sua aula de teologia que explorou a importância da ressurreição de Jesus para a Teologia Paulina. Todas as vezes que o material mostrou-se insuficiente devido os anos que já se passaram, os lapsos foram preenchidos pelo editor do Grande Diálogo. O Dr. Gaffin, além de professor tornou-se um amigo a quem tivemos a oportunidade de receber em nossa casa, acompanhado de sua esposa, quando morávamos na cidade da Filadélfia nos EUA.

CONTINUAÇÃO...

De acordo com Abraham Kuyper temos então a seguinte sequência, que para ele era inexorável: Escrituras Sagradas, igreja, dogma, dogmática — como teologia — e por causa da forma como a ênfase na descontinuidade é distribuída, isso faz com que Kuyper não apenas rejeite a teologia bíblia por considerar o nome impróprio, mas rejeite até mesmo o conceito que ela representa. Essa é meso uma discussão muito interessante. Todavia, não podemos deixar de afirmar que apesar de sua posição tão rigorosa, Kuyper aprova o foco material da teologia bíblica no que diz respeito ao interesse que a mesma demonstra no caráter histórico da Bíblia. Mas ele lamenta a falta de visão da teologia dogmática no uso de provas no que diz respeito à busca de um progresso verdadeiro no entendimento bíblico que resulta do estudo da histeria da revelação das Escrituras.

Quando comparamos Vos e Kuyper não é difícil identificarmos que a ênfase de um é o exato oposto da ênfase do outro. Seguem alguns exemplos:

1. A forma como Kuyper constrói seu argumento teológico é caracterizado por uma espécie de nivelamento de todos os autores bíblicos. Não existe nenhum esforço no sentido de levar em conta suas respectivas distinções. De fato, temos a nítida impressão que Kuyper caminha na direção oposta a isso.  

Enquanto Vos pensa em termos de uma inclinação sistemática e na qualidade da mente de Paulo no que diz respeito à sua capacidade altamente sintética e voltada para o ensino, Kuyper pensa que o apóstolo, juntamente com todos os outros autores bíblicos lançam mão daquilo que ele chama de “linguagem estilizada e simbolicamente estética do Oriente Médio”.

2. Kuyper procura enfatizar, exclusivamente, a descontinuidade entre os autores bíblicos e a atividade teológica das gerações cristãs subsequentes. Por outro lado, Vos faz uma descrição de Paulo como um teólogo e pensador específico, e suas repetidas referências ao sistema teológico adotado pelo apóstolo são formas de expressão completamente proibidas para Kuyper.

Os dois pontos indicados acima são mutuamente exclusivos em vários aspectos principais. Qual do dois estará certo? A posição assumida por Kuyper pode representar, de forma característica, a atitude reformada, especialmente no que diz respeito a relação de Paulo e a formulação dogmática. Mas por outro lado temos que admitir que a interpretação de Vos é mais apropriada para lidarmos com o apóstolo Paulo como escritor bíblico e como um instrumento da revelação divina.

A revelação bíblica possui um interesse histórico. As Escrituras Sagradas são um registro da história da revelação. A análise dessa história — análise que é bem-vinda pelo próprio Kuyper — tem deixado claro que a revelação é um fenômeno diferenciado, composto por atos e palavras que explicam os atos. Deus se Revela a Si mesmo tanto em atos redentores como em palavras de revelação que explicam seus atos. A relação orgânica entre esses dois aspectos da revelação tem se tornado cada vez mais evidente. A revelação por meio de palavras explicativas não se sustenta sozinha. Por esse motivo ela está sempre direcionada seja de forma implícita ou explícita a explicar os atos redentores de Deus. As palavras de Deus estão, invariavelmente, relacionadas a Seus atos. Os atos de redenção são a razão de revelação existir. Uma noção não bíblica e praticamente gnóstica da revelação surge todas as vezes, de modo inevitável, quando a mesma é considerada independente como a fonte supridora de verdades autoevidentes. De acordo com Vos: “a revelação está tão entrelaçada com a redenção que, se deixarmos de lado as considerações referentes à essa última, a revelação fica como que algo meramente suspenso no ar. Dessa forma nós podemos afirmar que a revelação é a autenticação ou a interpretação das ações redentoras de Deus. Geralmente nós podemos encontrar tanto a descrição de um ato quanto a revelação referente ao mesmo numa mesma passagem produzida por qualquer escritor bíblico ou instrumento da revelação. O que deve ser notado é que de passagem em passagem um desses dois aspectos será mais proeminente.

A estrutura básica do Canon do Novo Testamento reflete bem essa distinção: os Evangelhos representam os atos redentores de Deus, enquanto as epístolas servem como meio de interpretação desses mesmos atos. Que esse padrão é intencional é confirmado inclusive pelo Canon do herege Maricão quando ele editou o evangelho de Lucas, entrelaçando-o com as epístolas paulinas, com exceção das epístolas pastorais — 1 e 2 Timóteo e Tito. Esse fato prova que o Canon de Marcião está baseado no Canon da Igreja e não vice-versa.[1]

CONTINUA...  

A RESSURREIÇÃO DE CRISTO DENTRE OS MORTOS NA TEOLOGIA DE PAULO — PARTE 001 — INTRODUÇÃO À HERMENÊUTICA.

A RESSURREIÇÃO DE CRISTO DENTRE OS MORTOS NA TEOLOGIA DE PAULO — PARTE 002 — PRINCÍPIOS METODOLÓGICOS — PARTE 001.

A RESSURREIÇÃO DE CRISTO DENTRE OS MORTOS NA TEOLOGIA DE PAULO – PARTE 003 — QUESTÕES METODOLÓGICAS — PARTE 002 — A RELAÇÃO ENTRE OS ATOS REDENTORES DE DEUS E A REVELAÇÃO DAS ESCRITURAS SAGRADAS

A RESSURREIÇÃO DE CRISTO DENTRE OS MORTOS NA TEOLOGIA DE PAULO – PARTE 004 — QUESTÕES METODOLÓGICAS — PARTE 003 — A RELAÇÃO ENTRE PAULO E SEUS INTÉRPRETES MODERNOS

A RESSURREIÇÃO DE CRISTO DENTRE OS MORTOS NA TEOLOGIA DE PAULO – PARTE 005 — QUESTÕES METODOLÓGICAS — PARTE 004 — PAULO, NÓS E A HISTÓRIA DA REDENÇÃO

A RESSURREIÇÃO DE CRISTO DENTRE OS MORTOS NA TEOLOGIA DE PAULO – PARTE 006 — QUESTÕES METODOLÓGICAS — PARTE 005 — PAULO E SEUS INTÉRPRETES — PARTE 01

A RESSURREIÇÃO DE CRISTO DENTRE OS MORTOS NA TEOLOGIA DE PAULO – PARTE 007 — QUESTÕES METODOLÓGICAS — PARTE 006 — PAULO E SEUS INTÉRPRETES — PARTE 002

A RESSURREIÇÃO DE CRISTO DENTRE OS MORTOS NA TEOLOGIA DE PAULO – PARTE 008 — QUESTÕES METODOLÓGICAS — PARTE 007 — PAULO E SEUS INTÉRPRETES — PARTE 003 — FINAL

A RESSURREIÇÃO DE CRISTO DENTRE OS MORTOS NA TEOLOGIA DE PAULO – PARTE 009 — O TEMA CENTRAL E SUA ESTRUTURA BÁSICA — PARTE 001 — CRISTO, AS PRIMÍCIAS — PARTE 001

A RESSURREIÇÃO DE CRISTO DENTRE OS MORTOS NA TEOLOGIA DE PAULO – PARTE 010 — O TEMA CENTRAL E SUA ESTRUTURA BÁSICA — PARTE 002 — CRISTO É AS PRIMÍCIAS E OS CRENTES SÃO A COLHEITA PLENA — PARTE 002

A RESSURREIÇÃO DE CRISTO DENTRE OS MORTOS NA TEOLOGIA DE PAULO – PARTE 011 — O TEMA CENTRAL E SUA ESTRUTURA BÁSICA — PARTE 003 — CRISTO É O PRIMOGÊNITO DENTRE OS MORTOS — PARTE 003

A RESSURREIÇÃO DE CRISTO DENTRE OS MORTOS NA TEOLOGIA DE PAULO – PARTE 012 — O TEMA CENTRAL E SUA ESTRUTURA BÁSICA — PARTE 004 — A RESSURREIÇÃO DE CRISTO E A RESSURREIÇÃO DOS CRENTES SÃO EPISÓDIOS DE UM ÚNICO EVENTO

A RESSURREIÇÃO DE CRISTO DENTRE OS MORTOS NA TEOLOGIA DE PAULO – PARTE 013 — A RESSURREIÇÃO DE CRISTO E A RESSURREIÇÃO PASSADA DOS CRENTES — PARTE 001

A RESSURREIÇÃO DE CRISTO DENTRE OS MORTOS NA TEOLOGIA DE PAULO – PARTE 014 — A RESSURREIÇÃO DE CRISTO E A RESSURREIÇÃO PASSADA DOS CRENTES — PARTE 002
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2017/01/a-ressurreicao-de-cristo-dentre-os.html

OUTROS ARTIGOS ACERCA DA SOTERIOLOGIA DO APÓSTOLO PAULO

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A RESSURREIÇÃO DE CRISTO DENTRE OS MORTOS NA TEOLOGIA DE PAULO — PARTE 002 — PRINCÍPIOS METODOLÓGICOS — PARTE 001.

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A RESSURREIÇÃO DE CRISTO DENTRE OS MORTOS NA TEOLOGIA DE PAULO – PARTE 009 — O TEMA CENTRAL E SUA ESTRUTURA BÁSICA — PARTE 001 — CRISTO, AS PRIMÍCIAS — PARTE 001

A RESSURREIÇÃO DE CRISTO DENTRE OS MORTOS NA TEOLOGIA DE PAULO – PARTE 010 — O TEMA CENTRAL E SUA ESTRUTURA BÁSICA — PARTE 002 — CRISTO É AS PRIMÍCIAS E OS CRENTES SÃO A COLHEITA PLENA — PARTE 002

A RESSURREIÇÃO DE CRISTO DENTRE OS MORTOS NA TEOLOGIA DE PAULO – PARTE 011 — O TEMA CENTRAL E SUA ESTRUTURA BÁSICA — PARTE 003 — CRISTO É O PRIMOGÊNITO DENTRE OS MORTOS — PARTE 003

A RESSURREIÇÃO DE CRISTO DENTRE OS MORTOS NA TEOLOGIA DE PAULO – PARTE 012 — O TEMA CENTRAL E SUA ESTRUTURA BÁSICA — PARTE 004 — A RESSURREIÇÃO DE CRISTO E A RESSURREIÇÃO DOS CRENTES SÃO EPISÓDIOS DE UM ÚNICO EVENTO

A RESSURREIÇÃO DE CRISTO DENTRE OS MORTOS NA TEOLOGIA DE PAULO – PARTE 013 — A RESSURREIÇÃO DE CRISTO E A RESSURREIÇÃO PASSADA DOS CRENTES — PARTE 001

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A RESSURREIÇÃO DE CRISTO DENTRE OS MORTOS NA TEOLOGIA DE PAULO — PARTE 015 — A RESSURREIÇÃO DE CRISTO E A RESSURREIÇÃO PASSADA DOS CRENTES — PARTE 003

Que Deus Abençoe a Todos.

Alexandros Meimaridis

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Desde já agradecemos a todos.


[1] Para uma discussão mais ampla acerca da posição de Marcião ver a obra de Theodor Zahn. Geschichte des neutestamentlichen Kanons — Pesquisa na História do Canon do Novo Testamento em 2 Volumes. A. Deichert, Leipzig, 1904.

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